Exu Tata Caveira

“Eu era um desses homens de preto, que usava chapéu e ia rezar para quem estivesse desencarnando, com meu livro ´embaixo do sovaco`. Em casas ricas recebia quadros, ouro, cavalos, carroças carregadas de milho, feijão e arroz. Nas casas pobres, recebia o que tinha - uma galinha, meia duzia de ovos, o único pão, a última carne que tinha na casa do filho - em nome de um papel que eu carregava, numa época em que só valiam as riquezas, o quanto se pudesse carregar. Por isso, quando desencarnei, fui parar no portão do cemitério, para receber quem ter e quem não tem, quem se cobre com jornal ou com o maior dos tesouros.

Eu sei o valor da pedra que vocês chutam e também do carvão lapidado no dedo e no pescoço de uma bela dama.

Respeitem os Exus, porque eles vivem suas alegrias e choram suas tristezas. Somos nós que esperamos vocês na concepção e no desencarne. Estar incorporado é deixar o espírito ir e vir e deixar o espírito caminhar dentro de você. Nós vemos o mundo através de vocês, através das limitações de vocês, porque a nossa visão é mais ampla, vai além do que vocês podem ver. Nós preferimos incorporar aqui do que soltar os gritos na imensidão. Nós, espíritos de luz, nos limitamos aos corpos de vocês, porque é melhor fazer 50 filhos nos ouvirem de cada vez do que virar uma nação inteira do avesso.

As vezes vocês ficam ouvindo aquelas vozes no ouvido dizendo o que fazer, de certo e errado, e você pensa que são um anjo e um diabinho. A voz que te fala coisas corretas somos nós e o demônio, são vocês mesmos.

Sou eu quem estou no portão do cemitério recebendo quem passa encarnado e diz ´Saravá`, quem passa desencarnado ainda com lágrima nos olhos e quem passa com lágrima nos olhos para se despedir de quem ama."

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